Foto de apresentação: #Cnemidophorus uniparens – Buffalo #Zoo [Wikipedia]
Há certos mecanismos que os seres vivos adotaram ao longo da evolução que despertam alguma curiosidade em nós, porque põem à prova o nosso conhecimento em relação à sua resiliência. Ora, mas a que me refiro? Ao longo dos artigos que escrevi, tenho vindo a abordar muitas capacidades fantásticas e algumas, talvez, que desconhecias, bom, hoje não é exceção. Para este artigo, trago um assunto que irá com certeza despertar a tua atenção, começo por dizer o nome do fenómeno de reprodução que vou abordar, e logo por aí irás perceber que se trata de algo fantástico, é então: a #partenogénese! Nesse caso, começo por deixar uma questão: e se não fosse necessário a contribuição do macho, para existir descendência viável?
Dissecando esta grande palavra, em que “parthenos” significa virgem e “genesis” significa origem, na verdade, trata-se de uma reprodução na qual o óvulo se desenvolve sem ter sido fecundado. Interessante, não é? Mas então, não é necessário a contribuição de um macho e de uma fêmea? Como tudo, há sempre exceções, e a #partenogénese é sem dúvida um desses casos. Mas então, terá necessariamente de haver uma explicação para uma fêmea, sem a participação do macho, conseguir reproduzir-se. Na verdade, a reprodução por partenogénese foi considerada, por vezes, uma variante da reprodução sexuada, pois há a intervenção de um tipo de célula sexual. No entanto, atualmente é referenciada como um tipo de reprodução assexuada, visto que não há fecundação. De qualquer das maneiras, é uma reprodução adotada por alguns seres vivos, não sendo necessário que estes apenas se reproduzam assim, maioria deles reproduzem-se com a contribuição do macho, e algumas vezes, sem a contribuição do mesmo, podendo utilizar as duas vertentes. Descendentes de reprodução #partenogenética, tendem a ser clones da progenitora, porque, na verdade, não houve troca e rearranjo de informação genética com outro organismo, em contrapartida com o que ocorre na reprodução sexuada em que há intervenção de dois organismos, o macho e a fêmea, e nesse caso, sim, há troca de informação #genética.
Algumas espécies de lagartos do género #Cnemidophorus (#Aspidoscelis) podem reproduzir-se por partenogénese, no caso em particular da espécie Cnemidophorus uniparens (#Aspidoscelis uniparens), as populações são compostas por “clones” todos do sexo feminino, que podem estimular a ovulação umas das outras, fazem isso fingindo “acasalar”, de notar que, os machos desta espécie não se extinguiram, nem as fêmeas optaram pela reprodução partenogenética em deterioramento da contribuição do macho, na realidade, esta espécie surgiu fruto de um cruzamento entre duas espécies diferentes do género Cnemidophorus, podendo ocasionalmente, as fêmeas acasalar com machos de outras espécies.

Lepidodactylus lugubris – ZooKeys [Wikipedia]
Sabias que este tipo de reprodução já foi observada em exemplares da espécie #dragão-de-komodo (#Varanus #komodoensis)? Normalmente dá-se a reprodução quando a fêmea acasala com um macho, fazendo posteriormente a sua postura, no entanto, nem sempre é assim, pode acontecer o processo de reprodução chamado de partenogénese. Foi observado no Jardim Zoológico de Chester, no Reino Unido, uma postura de ovos de Varanus komodoensis, que após serem analisados percebeu-se que continham apenas DNA (ou ADN) da progenitora, e esta não teve qualquer contacto com um macho. Podemos pensar neste caso de uma maneira evolutiva, ou seja, evolutivamente falando, seria vantajoso a fêmea conseguir dar à luz juvenis saudáveis, sem ter de acasalar com um parceiro? Bom, desde logo podemos pensar que é bastante vantajoso, a nível evolutivo, pois não necessita de encontrar um macho para vingar a espécie, e facilmente coloniza outro local e cria uma população nova. Mas, então, serão só vantagens? Não. Costuma-se dizer que «não há uma moeda sem duas faces», não é? Pois, aqui não é exceção. O facto de apenas terem o DNA (ou ADN) da progenitora, faz com que não tenha existido cruzamento genético, ou seja, não há diversidade genética nas crias, o que pode levar a uma redução do fitness (aptidão) da espécie. Contudo, há que notar, que é uma forma, e por vezes estratégia de sobrevivência, e os animais estão sempre a dar-nos lições, no que toca a esse assunto, não é verdade? Recentemente, num aquário nos Estados Unidos, uma fêmea da espécie Eunectes murinus, apesar de não ter tido contacto algum com um parceiro, deu à luz crias saudáveis! Impressionante, não é? As duas crias sobreviventes tinham o DNA (ou ADN) da progenitora, o que indicou que mais uma vez, se tratava de um caso raro de partenogénese. Em Missouri, uma serpente em cativeiro, da espécie #Nerodia erythrogaster deu à luz, sem a contribuição de um macho, dando pistas aos tratadores que talvez se trata-se de um caso de partenogénese, surgiram algumas dúvidas sobre se não teria armazenado esperma do macho, no entanto, concluiu-se que seria um período demasiado extenso, pois já estava em cativeiro há vários anos, sendo assim, a reprodução por partenogénese foi a explicação para tal acontecimento.
Na verdade, o facto de a partenogénese ser um caso raro em serpentes, não é assim tão raro noutros seres vivos, existem animais que optam por esta estratégia de reprodução há muito tempo, como é o caso dos tão importantes polinizadores: as fantásticas abelhas. E no caso das abelhas, estas têm uma organização estrutural, sendo a sua sociedade formada por zangões (os machos), operárias (as fêmeas estéreis) e a rainha (fêmea fértil), na verdade, apenas as rainhas e as operárias são originárias de óvulos fecundados, os zangões nascem por partenogénese. Muito interessante, não concordas?
De facto, a reprodução sexuada com a intervenção de dois tipos de células sexuais, tem como obrigatoriedade o encontro de dois organismos de sexos opostos, de modo a, na maioria das vezes, vingar na continuação da linhagem da espécie, por outro lado, na partenogénese, apenas um organismo é necessário para gerar descendência, e isso pode ser muito vantajoso em certas ocasiões, pois multiplicam-se mais rápido, sendo que noutros casos não é uma reprodução vantajosa… por exemplo, quando é necessário existir mudanças ao nível genético de modo a haver uma adaptação em ambientes em transformação ou por exemplo: no caso de alguma doença que está a afetar a população de uma determinada espécie. Na reprodução sexuada dá-se usualmente o processo importantíssimo chamado de crossing over, há uma troca de informação, que confere a variabilidade genética. Se um exemplar da espécie for bastante suscetível à infeção por um determinado #parasita, então, se houver reprodução por #partenogénese, os seus descentes não terão variabilidade #genética, e serão igualmente suscetíveis. Neste caso a reprodução sexuada seria mais vantajosa, pois há troca de informação entre dois organismos, havendo uma maior probabilidade de nascerem exemplares mais resilientes, vingando e dando continuidade à espécie, passando esses genes que conferem maior resistência às populações seguintes, aumentando assim o seu fitness (aptidão), permitindo-lhe então sobreviver caso ocorra, por exemplo, uma modificação brusca do #biótopo, uma doença ou outra adversidade com a qual tenham que lidar.
Sendo assim, depois deste texto, respondendo à questão que escolhi como título para este artigo: “e se fosse possível?”. Devo então, substituir: “e se”, por, “é de facto, possível”.